Antes de se casar, o sonho, a realização, o feito. Antes de se casar, a alegria, a farra -- no bom sentido da palavra --, a algazarra, o encontro; antes de se casar, a luz, o descobrimento das montanhas, nunca antes galgadas, o cimo, nunca antes alvejado... Enfim, antes da morte, a vida!
Sei o quanto percebemos que, naturalmente, nos aparece momentos de luz, depois, de escuridão, e assim, sucessivamente... Porém, quando se casa, vem a escuridão completa. Tudo, no entanto, começa com a vertigem no coração, de tanta emoção, amor, paixão, loucura, tontura, e muito mais,,, Não há nada igual.
E como uma roda gigante que para com você preso na última escala, o casamento se vai. Por que lá em cima e não lá embaixo? Para dar medo, terror, dor, dores de barriga, sufoco, suor, calafrio... Diferente da grande emoção que, antes, se exibia no descer e subir, no descer e subir... Hoje, não desce nem sobre -- podem pensar o que quiserem!
E a escuridão se faz assim, Lá em cima. Não consigo sair dela. Na leitura, nas amizades que não tenho mais, nas palavras que antes faziam sentido, e hoje não fazem mais. Na cultura que me conduzia, nos estudos que eram minha característica, na busca dos mistérios, que hoje não têm mais mistérios...
Aprazo pela televisão, na desenfreada busca de não mais ouvir a parceira, concentrando-me em filmes sem sentido, em desenhos (blá blá blá), enfim, em choros internos dos quais somente Mozart para me compreender, e por isso, criei um espaço somente meu, no qual me encontro também com a música, com a paz, e comigo mesmo.
Lá, em uma viagem acima da alma, prevaleço até que a música acabe, ou até o momento em que a voz dela (da parceira) soa como a de um dragão sem fogo nas narinas...
Alguém tá me ouvindo??