Minha mãe sempre dia, em tom de
brincadeira, “quem inventou o trabalho não tinha o que fazer”. E eu sempre completava “quem inventou o
casamento foi um péssimo solitário!”. E assim, minha solidão se fez em forma de
livros, de estudos, de conexões com o mundo interior, de modo a me preservar
dos namoricos, das paixões baratas, e mergulhar no vão dos questionamentos
pré-filosóficos.
E hoje, depois de dez anos de
casado, ainda com tais questionamentos, penso que voltei à idade das trevas,
cavernas, apenas a observar o fim delas, na tentativa de encontrar o seu
começo. Me perdi. E quando veio o grande filho – a única medalha que ganhei até
hoje – me dediquei como poucos, e até então o faço da melhor maneira possível,
contudo, quem se dedica ao casamento sabe muito bem que, aos olhos da maioria,
é um mero escravo do chão, das panelas, da casa, da patroa...
E reforçado pelos olhares da
senhora feudal, que passa o dedo em cadeiras e móveis, para saber se há ou não resquícios
do pozinho, tiramos a camisa, a demonstrar o suor, e o pior: as marcas das
chicotadas! Como fomos tolos! – devia haver um filme com esse título! Mesmo porque
a natureza, segundo alguns, sábia, nos fez fortes, autoritários, firmes, com
vozes graves, estrondosas, porém, se desfazem quando a bendita aliança se lança
naquele dedinho que todos conhecem como “o dedo cuja veia tem ligação com o
coração...” – depois de anos, percebo que não era com o coração...
Depois desses três parágrafos,
pensei em Sócrates, grande filósofo, divisor de águas entre o que fora ou não
filosofia. Mestre, que não fora iniciado nos segredos ocultos, era casado com
Xantimpa, uma senhora cujo nome era tão normal quanto chupar manga em dezembro.
Até hoje não se sabe por que nosso querido mestre se casou, pois seus
discípulos, inclusive o melhor deles, Platão, nem pensava nesse suicídio! Mas o
mestre foi além.
E por ter ido além, todas as
vezes que estava a filosofar acerca dos homens e dos sistemas, sua esposa, cuja
voz tinha mais semelhança com a de uma sindicalista revoltada, saía a procura do marido.
E ao saber de suas relações filosóficas, gritava seu nome como se estivesse em
uma favela carioca, em meio a um tanque cheio de roupas... Imagine o
desconforto do mestre!
Tempos depois, Sócrates foi
condenado, preso, e mais tarde a tomar cicuta – um veneno, pior que casamento,
-- e após emborcar o frasco contendo o líquido, direto aos lábios, se foi,
morreu; antes, porém, dizem que suas últimas palavras foi “Sacrifiquem um galo
a Esculápio”... Claro que Sócrates estava se referindo ao deus Esculápio, e o
galo, em sacrifício, nada mais era que um ato simbólico antes do pós-morten..
Outros, os mais incultos,
diziam... Sócrates falou no galo porque sua esposa o tinha pedido para comprar,
e ele, por raiva, fez exatamente o contrário; em vez de mandar entregar à esposa, pediu
para sacrificar o bichinho e ainda entregar a um amigo chamado Esculápio!
Que absurdo!
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